Um Espírito Santo desempregado
- Samuel Cunha
- 18 de out. de 2018
- 3 min de leitura
O dia 1 de Maio é comemorado em inúmeros países para assinalar os direitos dos trabalhadores. Reza a história que em 1886, uma grande manifestação ocorreu em Chicago com objectivo de conseguir baixar o número de horas de trabalho diário. Contudo os tempos mudaram e os problemas que enfrentamos hoje não são mais o excesso de trabalho, mas a falta do mesmo. Praticamente todas as semanas somos bombardeados com os valores do desemprego em nossos países, e muito raramente estas estatísticas se demonstram animadoras. Desde já, aproveito este artigo para dar uma palavra de coragem a todos aqueles que estão a passar por dificuldades nesta área.
Mas, e se o desemprego tivesse chegado também ao Céu? Parece uma piada, mas será que o tipo de relação que mantemos com Deus pode figurativamente envia-lo para o desemprego? O artigo desta semana tem como objectivo compreender bem uma função específica do Deus Espírito Santo, e procurar averiguar se essa tarefa ainda é desempenhada pelo mesmo.
Quando pensamos no trabalho do Espírito Santo, qual é a primeira função que nos vem à mente? Recordo-me que na minha infância, tive uma conversa com dois amigos chegados na qual surgiu a mesma pergunta. A resposta não se fez tardar, sendo que o E.S. era para nós: “ aquela vozinha que te diz: não comas, não comas...”. Esta pequena experiência demonstra como para muitos, a função primordial do E.S. é a de animar a nossa consciência. Mas será que a nossa consciência é sempre guiada pelo E.S.? Um exemplo clássico sobre este tema é o de uma tribo canibal. Para eles o facto de comer carne humana faz parte da sua educação e cultura logo, a sua consciência não os acusa quando o fazem. Neste caso, aplica-se claramente a frase de Karl Marx onde ele afirma que “Não é a consciência do homem que lhe determina o Ser, mas, ao contrário, o Ser social é que lhe determina a consciência.” Esta ideia implica que muitas vezes a nossa consciência é esculpida pelo ambiente social em que nos encontramos. Desta forma, o facto de não nos sentirmos acusados por ela, não significa que estejamos a trilhar o caminho de Deus.
Mas então se a consciência pode ser trabalhada pela nossa educação, cultura e meio social, qual é então a ação especifica do E.S. na nossa vida? A Bíblia apresenta-nos muita informação sobre o Espírito Santo. Contudo, como me encontro limitado pelas linhas deste artigo gostaria de abordar apenas um texto que nos fala sobre uma ação específica do mesmo. O texto fica mais claro quando o lemos na versão BPT, senão vejamos: “Quando ele chegar há de convencer as pessoas do mundo sobre três coisas: que cometeram pecado, que há uma justiça e que há um julgamento.” (João 16.8) Uma das principais diferenças entre a consciência humana e a ação do Espírito, é que a ética divina ultrapassa qualquer educação, cultura ou meio social, sendo também uma ferramenta de comunicação entre Deus e o Homem.
Durante o Antigo Testamento, Deus falou de forma maioritária através de Deus Pai. A partir do ano zero, o Deus encarnado falou-nos pela pessoa de Jesus. Hoje, Deus fala-nos através do Espírito Santo. Já não temos um templo, e o sacrifício de Jesus já foi feito. Agora somos nós o templo e a nossa vida é chamada a ser um “sacrifício vivo”. Hoje, já não ouvimos a voz tranquila e suave de Deus Pai, ou os discursos de Jesus, mas hoje o Espírito Santo trabalha na nossa mente para nos revelar o pecado, a justiça e o julgamento.
Qual é então a razão para dizer que muitas vezes as nossas atitudes colocam o E.S. no desemprego? Bom, quando numa empresa em virtude de uma fusão ou de outra coisa qualquer, encontramos duas pessoas para a mesma função, normalmente o Concelho de Administração opta por despedir uma delas. Assim, cada vez que procuramos ser a consciência do vizinho, cada vez que apontamos pecados, fazemos juízos de valor ou pretendemos conhecer toda a justiça, estamos com as nossas ações a despedir o E.S. considerando assim, que ele não é competente o suficiente para terminar a obra. Vários personagens bíblicos foram enganados pela ideia de que Deus necessita de ajuda nas suas funções. Pessoas como Rebeca, Uzá ou o próprio Judas acreditavam que “ajudando”, podiam mais rapidamente resolver uma questão que Deus tardava em resolver. Contudo, a obra do Espírito é uma obra lenta e silenciosa. Como EGW afirma no seu livro O Caminho para a Esperança: “Embora o trabalho do Espírito seja silencioso e imperceptível, os seus efeitos são manifestos.” (p. 58) É verdadeiramente necessário que coloquemos a nossa confiança nesta obra.
Este tema é sensível, pois muitas vezes aquilo que nos leva a tomar o lugar de Deus é na verdade, o nosso amor ao próximo. No entanto, neste 1º de Maio, vamos restituir a Deus o seu posto pois na verdade, Ele é O mais competente para o desempenhar.


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